Secretaria de Infraestrutura / Prefeitura
Intervenção em ruas como do Rosa Garcia exige investimento alto
Circular pelas ruas do município, de modo geral, pode representar desafio tanto para quem utiliza veículos de transporte como para quem caminha. A explicação é simples: a malha viária está comprometida, perdeu a capacidade de recuperação e depende de investimento sem precedentes para ser renovada.
O panorama foi revelado pela Secretaria Municipal de Infraestrutura, Meio Ambiente e Agricultura, não é dos mais animadores. As chuvas que atingiram o município, na segunda semana deste mês, aumentaram ainda mais as dificuldades.
De um lado, usuários reclamam dos serviços de recapeamento prestados pela Prefeitura, por meio de redes sociais. Em especial, pelo uso da chamada “massa fria”, que se desprende do solo com facilidade.
De outro, a Prefeitura se defende, argumentando que não tem recursos suficientes para apresentar uma solução definitiva. Resta, nesse caso, o paliativo do “tapa-buracos”.
A principal justificativa apresentada pelo secretário da pasta, vice-prefeito Vicente Aparecido Menezes, Vicentão, diz respeito a um diagnóstico. O titular alega que o asfalto de Tatuí, na grande maioria, está oxidado.
Em outras palavras, perdeu o prazo de validade, uma vez que não suporta mais um reparo simples. Para recuperá-lo, seria preciso um recapeamento.
Especialista no assunto, o diretor de vias públicas da secretaria, Wilson Siqueira, citou que a vida útil do asfalto vai de sete e dez anos. A variação da durabilidade depende de diversos fatores externos. Em Tatuí, pelo menos quatro deles contribuíram para a degradação atual da malha viária.
“O que começa a fazer com que a vida do asfalto seja encurtada é, primeiro, que as ruas foram projetadas para veículos leves e para circulação de caminhões com peso dentro da normalidade”, argumentou o vice-prefeito.
O segundo fator é o aumento do fluxo de veículos e o terceiro, o tempo de aplicação. Em Tatuí, a maioria das ruas possui asfalto aplicado há mais de 20 anos. Nesse prazo, ocorre o endurecimento da camada, pela perda de viscosidade.
Siqueira explicou que o asfalto é flexível (tem elasticidade). Quando ele “passa do prazo de validade”, perde essa condição. Ao ser “forçado”, principalmente por causa do peso dos veículos em circulação, há uma ruptura.
“Qualquer trinca pequena, um buraquinho de caneta que seja, no chão, é o suficiente para degradar ainda mais o asfalto”, afirmou. Com as chuvas combinadas à circulação de veículos, as fendas aumentam, dando origem a crateras.
Durante as chuvas, o aumento dos buracos é acelerado. Conforme o diretor, isso ocorre porque há um “bombeamento da água” na parte inferior do asfalto.
A chuva que ficou represada entre o solo e a camada tende a “se agitar”, pressionada pela passagem dos pneus dos veículos. Com isso, a água faz com que o agregado que compõe o asfalto se desprenda.
O último fator que agrava ainda mais a situação de circulação é a ausência de galerias pluviais em boa parte das ruas da cidade. Siqueira mencionou que a maioria dos bairros, quando da construção das casas que os compõem, não dispunha de sistema de drenagem de chuva – daí, a falta deles.
Para complicar ainda mais, nos locais em que existem as “bocas de lobo”, ocorre um “estrangulamento”. Conforme o diretor, as galerias pluviais não estão dimensionadas para receber volume muito grande de chuva. A concentração é decorrente da geografia do município.
De modo geral, o responsável pelo setor de vias públicas diz que não há captações que amortizem o volume de água incidindo sobre áreas mais altas da cidade, como o bairro Santa Cruz. A chuva que cai lá escorre para outras vias, impermeabilizadas pelo asfalto, desembocando no ribeirão do Manduca.
O mesmo acontece com a rua 15 de Novembro, onde a chuva é captada somente por galerias na região da Rodoviária Municipal “Pedro de Campos Camargo”, provocando pequenos alagamentos. O resultado disso é que a água infiltra no asfalto oxidado, gerando buracos, tampados em ações contínuas.
Além da falta de recursos, Siqueira argumentou que o município não possui condições de mudar essa situação porque não tem como “paralisar o trânsito”. “Já imaginou estourar uma cidade inteira para trocar a rede de água?”, indagou.
O custo desse tipo de obra é considerado inviável, do ponto de vista econômico, pelo vice-prefeito. Vicentão alegou que o Executivo não tem caixa para “enterrar milhões de reais”.
Ainda acrescentou, como impedimento, a circulação de caminhões pesados. Segundo ele, os veículos são os principais responsáveis pelo agravamento das condições de tráfego do município.
Pelas contas da secretaria, há aproximadamente 4.000 veículos pesados registrados no município. Os números são de levantamento encomendado pelo vice-prefeito. Ele destacou que esse estudo não leva em consideração os veículos registrados em outras cidades e que circulam por Tatuí.
Conforme Vicentão, os caminhões estão “sempre acima do peso”. O vice os considera os principais responsáveis pela menor durabilidade do asfalto, citando, como exemplo, as condições de circulação da marginal do ribeirão do Manduca.
Além dessa via, estão em situação mais crítica a rua 15 de Novembro, as ruas da vila Esperança e do Jardim Wanderley. O Executivo aguardava a vinda de R$ 1 milhão, recurso de emenda parlamentar, para realizar o recapeamento de trecho da 15 de Novembro.
As obras seriam realizadas no espaço que compreende o Mercado Municipal “Nilzo Vanni” até o cruzamento com a rua do Cruzeiro. Contudo, o recurso não pôde ser utilizado pela Prefeitura, após cancelamento.
A recuperação depende da situação de cada bairro ou rua. Em algumas delas, Vicentão relatou que será preciso refazer a base que recebe a capa asfáltica; em outros, será necessário obter investimentos para construção de galeria pluvial.
Esse tipo de definição é feita com base em estudos nos pontos avariados. Em vias que apresentam ondulações (chamadas de borrachudas, pela equipe técnica), é preciso impermeabilizar a base do solo antes de recuperar o asfalto.
“Se não refizer toda a infraestrutura até voltar ao pavimento, não adianta nada. É jogar dinheiro fora. Se só cortarmos o trecho abalroado, deixarmos bonito e passarmos asfalto e compactador, será uma perda de tempo”, disse Siqueira.
Por falta de opção, o diretor declarou que a Prefeitura tem optado por tapar os buracos, de forma a melhorar o tráfego temporariamente. No período de chuvas, essa ação precisa ser refeita por inúmeras vezes.
O motivo é que não é possível manusear o asfalto usinado por conta da temperatura. Siqueira disse que o material pode ser operado “até mesmo debaixo d’água”. Porém, para não afetar a saúde dos funcionários, o departamento prioriza o uso de asfalto frio, que sai com mais facilidade e não é compactado.
O asfalto quente sai da usina a 180 graus e, para ser aplicado em “condições normais de aproveitamento”, tem de ser manipulado a uma temperatura de até 110 graus. Numa emergência, a secretaria abre mão desse material, para não ter a durabilidade comprometida e não afetar a saúde dos servidores.
Como solução temporária, os buracos são tampados com o asfalto frio. “Nós adotamos essa medida para evitar um risco de acidentes, com carros e motos. Como a massa sai mais rapidamente, o povo considera um serviço porco”, disse Siqueira.
Entretanto, o secretário da Infraestrutura defende que essa é a única maneira viável de dar às ruas condições mínimas de circulação.
Vicentão ressaltou que as operações para tapar buracos, rebatizadas de “chega de buraco”, são uma solução temporária. A definitiva deveria vir com recursos obtidos por meio de apoio do deputado estadual Edson Giriboni (PV) e junto ao governo federal.
O Executivo busca recurso via Desenvolve SP, no valor de R$ 10 milhões, para recapeamento. A informação, divulgada pelo secretário, é de que a cidade está entre as escolhidas como as primeiras a receberem o dinheiro para essa finalidade. “Lamentavelmente, não há fundos. O que nós fomos informados é que, até o final do ano, teremos uma resposta da liberação, ou não”, disse.
Até lá, a administração tem tentado angariar emendas parlamentares. No dia 17 deste mês, Vicentão viajou a Brasília para pedir a colaboração de deputados federais que receberam votos no município. A expectativa é de que eles possam enviar dinheiro, em forma de emenda parlamentar, para essas obras.
Conforme o vice-prefeito, usando desse mecanismo, a Prefeitura conseguiu recapear algumas das vias públicas.
Entre elas, parte da avenida Vice-prefeito Nelson Fiúza, entre o Jardim Tóquio e o Morro Grande; a outra parte aguarda liberação de recurso. O próximo recapeamento – que está em fase de licitação – é a avenida Vice-prefeito Pompeo Reali, na vila São Cristóvão.
Entre o ano passado e este, o município promoveu o asfaltamento de novas vias. As obras aconteceram no distrito industrial I e em três ruas do Jardim Bela Vista.
Novos pontos estão na pendência de financiamento para receberem asfalto. Vicentão antecipou que a Prefeitura está pleiteando recursos via Pró-Transporte. O pedido soma R$ 20 milhões, sendo 20% (R$ 4 milhões) somente para recapeamento.
O Executivo já teve o financiamento autorizado, mas com um valor menor. Segundo o secretário, o governo reduziu o montante para R$ 5 milhões, por conta da crise financeira.
O recurso será aplicado no asfaltamento da interligação entre o Parque San Raphael e a rua Teófilo Andrade Gama, ruas do Vale dos Lagos e do Jardim Novo Horizonte, conforme cronograma.
Caso o Executivo não consiga nenhum recurso, a tendência é a condição do asfalto do município piorar. A projeção usa como base dados da Comdec (Coordenadoria Municipal de Defesa Civil). O órgão estima aumento de incidência de chuvas entre os meses de dezembro deste ano e março do ano que vem.
“O maior inimigo do asfalto é a água, quando ele não está impermeabilizado”, disse Siqueira. Por conta da incidência de chuva no início deste mês e dos estragos provocados por ela, o diretor citou que a Prefeitura instalou cavaletes em determinados pontos. O objetivo era evitar acidentes.
Contudo, a quantidade de buracos superou a capacidade de sinalização da secretaria. “Faltou cavalete, porque é muito buraco”, contou Siqueira.
A medida emergencial é adotada juntamente com a operação tapa-buracos nas vias com maior circulação de veículos. São os chamados “pontos emergenciais”, como avenidas do centro e ruas com grande circulação de veículos, principalmente de coletivos usados no transporte público de passageiros.
Nesses locais, o prazo de realização de obras tende a ser curto. Entretanto, ele pode se estender, quando a rua é caminho de vários veículos. Esse é o caso de 400 metros da rua que dá acesso ao viaduto interligando o Rosa Garcia 1 ao Rosa Garcia 2.
“Nós ficamos 50 dias lá e não terminamos ainda, porque o solo é barrento e passa muito caminhão”, contou Vicentão. Em outros pontos da cidade, como o bairro Congonhal, a realização de obras não avança por conta de um “impasse”.
A Prefeitura entende que as empresas que escoam produção por meio de caminhões precisam colaborar para a manutenção das vias, uma vez que, em tese, as estariam explorando comercialmente.
Esse será o tema da segunda reportagem da série “Ruas sem saída”, dividida em três partes, publicada a partir desta semana pelo jornal O Progresso.